Sessão Assíncrona


SA3.24 - ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA E ACESSO À MEDICAMENTOS (TODOS OS DIAS)

39741 - ANÁLISE QUALITATIVA DE RELATOS DE USUÁRIOS DO BENZODIAZEPÍNICO CLONAZEPAM (RIVOTRIL®) NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: UM OLHAR SOCIOANTROPOLÓGICO
RENATA GOMES DA COSTA DE MARCA - UERJ, RAFAELA TEIXEIRA ZORZANELLI - UERJ


Apresentação/Introdução
Segundo a Anvisa, o clonazepam é um dos psicotrópicos mais consumidos no país. No Estado do Rio de Janeiro, até 2% da população adulta faz uso, não raro uso problemático, o que traz preocupações à saúde pública pelas reações adversas e potencial de abuso. Paralelamente, o Rivotril aparece celebrado em objetos cotidianos e enunciado em expressões linguageiras, sendo objeto cultural/fato social.

Objetivos
Investigar os sentidos atribuídos ao uso do clonazepam, através das vozes dos usuários, frequentemente desconsideradas nas pesquisas, por meio de um estudo exploratório qualitativo, enfocando seus relatos e percepções sobre as experiências de uso.

Metodologia
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, em profundidade, com 20 usuários de longo termo (mais de um ano de uso regular), acima de 18 anos, residentes no Estado do Rio de Janeiro. Foram coletados os dados sociodemográficos dos participantes, a fim de caracterizar e contextualizar a amostra, considerando marcadores sociais como gênero, raça, renda, etc. Abordou-se temas como ingesta, motivos para o uso, formas de manejo da substância, expectativas, efeitos desejados e indesejados, etc. As entrevistas foram transcritas e analisadas qualitativamente, formulando-se eixos analíticos, explicitando as temáticas específicas abordadas pelos participantes e os sentidos por eles elaborados.

Resultados
Os principais eixos de análise foram: 1) o uso do clonazepam era associado a “se sentirem mais calmos” ou a “tratar a ansiedade”, diante de circunstâncias consideradas “difíceis”; 2) sempre que prescrito por psiquiatra, era associado a um antidepressivo; 3) os usuários desenvolviam expertise no manejo das dosagens, com base em experiências prévias e em vínculos sociais (amigos/parentes que fazem uso); 4) após iniciar o uso, a capacidade relatada de viver sem o medicamento se alterava; 5) ainda que, após um tempo, referissem “não fazer mais efeito”, optavam por não descontinuar o uso; 6) embora se tratassem de usuários de longo-prazo, eles não se percebiam como dependentes da substância.

Conclusões/Considerações
Os usuários personalizam o uso do clonazepam, a partir de experiências prévias de uso e sociabilidade, evidenciando racionalidades distintas da racionalidade médica e o medicamento como fato social e objeto cultural. Pesquisas que deem voz aos usuários de substâncias prescritas são fundamentais para a construção de políticas públicas mais democráticas, inclusivas e não-moralizantes, que informem de modos mais efetivos práticas de prescrição.