Comunicação Coordenada

23/11/2022 - 13:10 - 14:40
CC3.23 - DESAFIOS DO PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO NO SUS

38293 - DESAFIOS DE FAZER SAÚDE NO TERRITÓRIO LÍQUIDO (AMAZÔNIA DAS ÁGUAS)
MICHELE ROCHA DE ARAUJO EL KADRI - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, JULIO CESAR SCHWEICKARDT - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, CARLOS MACHADO DE FREITAS - ENSP-FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
O trabalho descreve como características da várzea amazônica impactam na organização da saúde local. O território é marcado pelo ciclo fluvial que influencia moradia, produção agrícola, fluxos de pessoas e mercadorias. O referencial de Milton Santos traz reflexões pertinentes no entendimento de um território organizado a partir da mobilidade e fluidez das águas, o qual nomeamos território líquido.

Objetivos
Analisar de que maneira o território usado condiciona o acesso à saúde na várzea amazônica. Investigar articulação da Atenção Básica com demais níveis de assistência.

Metodologia
A pesquisa elegeu um território na região central do Estado do Amazonas como estudo de caso que bem caracteriza as peculiaridades da várzea, a Região do Médio Solimões, contemplando 8 municípios. Adotamos combinação de estratégias para coleta e análise de dados: pesquisa bibliográfica; construção de matriz de identificação infraestruturas de produção, circulação, serviços; mapeamento de trajetos percorridos pelos usuários da atenção básica dos municípios à rede especializada no município-polo (Tefé) com uso aplicativo Wikiloc. Para amplo entendimento sobre a dinâmica de uso do território, foram feitas entrevistas com gestores e trabalhadores da urgência e da atenção básica.

Resultados
A cheia ou a seca altera muito a paisagem, com efeito importante na organização da saúde. O deslocamento intermunicipal é exclusivamente fluvial e pressupõe equação entre tempo, espaço a percorrer, custo, disponibilidade e tipo de transporte. Com o desnível do rio, a velocidade média chega a ser 18km/h maior na descida que subida (trecho Tefé-Jutaí-Tefé). Isso significa uma diferença de tempo 60 e 90 minutos no trajeto de ida ou volta. Considerando um quadro de urgência, essa variação é vital para decisão da melhor conduta terapêutica a adotar. Mais potência do motor significa viagem mais rápida, mas com custo maior. O acesso é mais difícil na seca, o que diminui demanda por atendimento.

Conclusões/Considerações
A enorme extensão territorial dos municípios aliada à dispersão da população e à predominância de ocupação em zona rural evidencia uma particularidade que é não enfrentada pelo SUS em nenhum outro cenário do país. Assegurar saúde à essas populações passa pelo reconhecimento dessa singularidade e pelo diálogo entre os atores locais (gestão e comunidade) com os demais entes federativos para proposição de alternativas igualmente singulares.