21/11/2022 - 13:10 - 14:40 CC3.7 - SAÚDE BUCAL E OS DESAFIOS DA INCLUSÃO NA CONSTRUÇÃO DA INTEGRALIDADE |
39634 - DESIGUALDADES RACIAIS NO TEMPO PARA INÍCIO DO TRATAMENTO CONTRA O CÂNCER DE BOCA E OROFARINGE NO BRASIL MÁRCIO VINICIUS DE GOUVEIA AFFONSO - UFPA, THAIS DE MORAES SOUZA - USP, ALINE LOBATO DE FARIAS - UFPA, VICTÓRIA BRIOSO TAVARES - UFPA, PRISCILA TEIXEIRA DA SILVA - UFPA, LILIANE SILVA DO NASCIMENTO - UFPA, JOÃO SIMÃO DE MELO-NETO - UFPA
Apresentação/Introdução O tempo para início do tratamento (TIT) é definido como o intervalo entre a data do diagnóstico e a data do início do tratamento. Atrasos nesse intervalo podem estar associados a Determinantes Sociais da Saúde (DSS), como a raça/cor, fator de exposição social ao risco de adoecimento e morte. Nos casos de câncer de boca (CB) e orofaringe (CO), um TIT prolongado está associado a um pior prognóstico.
Objetivos Avaliar se o TIT nos casos de CB e CO está associado a características raciais na população brasileira no período de 2013 a 2019.
Metodologia Estudo ecológico com base em dados secundários dos Registros Hospitalares do Câncer (RHC). Foram avaliados os indivíduos diagnosticados com CB (C00 a C06) e CO (C09 e C10), com idade entre 18 e 100 anos, sem tratamento prévio e que tiveram diagnóstico e tratamento iniciado no período de 2013 a 2019. Definiu-se como objeto de estudo o TIT, em dias, de acordo com a raça/cor, categorizada em Amarela, Branca, Indígena, Parda ou Preta. Calculou-se a mediana do TIT, com respectivo intervalo interquartil, assim como as frequências absoluta e relativa de acordo com a variável de interesse. Para identificar associações, utilizou-se do teste de Kruskal-Wallis e do teste de Dunn.
Resultados Foram identificados 30.066 casos de CB e 12.308 de CO. Desses, 15.160 não continham informações sobre a variável raça/cor. Pessoas consideradas Pardas representaram 50% dos casos, Brancas 42% e Pretas 7,2%. Aquelas consideradas Amarelas ou Indígenas representaram menos de 1%. Para ambos os cânceres, as maiores medianas do TIT foram observadas em indivíduos da raça Preta [CB: 75 (IQR 39, 118); CO: 65 (IQR 38, 104)] e Parda [CB: 67 (IQR 35, 108); CO: 63 (IQR 35, 100)] (p<0,0001). Enquanto as menores medianas estiveram associadas às pessoas Amarelas [CB: 48 (IQR 14, 88); CO: 63 (IQR 22, 94) e Brancas [CB: 57 (IQR 27, 97); CO: 55 (IQR 28, 90)] (p<0,0001).
Conclusões/Considerações Indivíduos da raça Preta e Parda, que geralmente pertencem a grupos de baixo nível educacional e socioeconômico, são os que mais estão expostos à vulnerabilidade social e à demora para iniciar o tratamento oncológico nos casos de CB e CO. Este achado evidencia a inter-relação entre os DSS, que resulta em barreiras socioeconômicas e raciais, e configuram as desigualdades no acesso à saúde.
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