24/11/2022 - 08:30 - 10:00 CC2.4 - DESAFIOS NO CUIDADO E NAS POLITICAS PARA POPULAÇÃOES VULNERABILIZADAS II |
39668 - A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE HOMENS TRANS ATRAVÉS DO CORPO LIGIA ÉVORA CONSTANTINO - UNICAMP
Apresentação/Introdução O que é ser homem e ser mulher é definido, em cada sociedade e em cada época, através de conjuntos simbólicos inteligíveis culturalmente constituídos e partilhados, portanto específico de cada comunidade. É através do corpo que estes símbolos são acionados para compor a performance de cada gênero, seja pelos modos de falar, agir, vestir etc., mas também pelo próprio corpo em si.
Objetivos Discutir e compreender como se dá a construção da identidade de homens trans a partir das modificações corporais buscadas por eles em serviços de saúde, como cirurgias e terapia hormonal, e o impacto dela em suas vidas.
Metodologia Foi realizada uma detalhada etnografia de três anos no Ambulatório de Gênero e Sexualidades do Hospital das Clínicas da UNICAMP – AMBGEN utilizando observação participante em consultas e grupos terapêuticos, e entrevistas semiestruturadas tendo como recorte indivíduos que estavam em acompanhamento no referido ambulatório, maiores de 18 anos, auto identificados como homens trans, visando melhor compreender a relação destes com a transição de gênero, as modificações corporais buscadas no ambulatório ou fora dele e o significado delas para eles e para a construção e externalização de suas identidades. As entrevistas foram realizadas antes e de um a dois anos após o início da terapia hormonal.
Resultados O principal e, muitas vezes, único objetivo dos homens trans ao buscar o AMBGEN é a terapia hormonal e a expectativa sobre ela é unânime: Adquirir traços apontados por eles como marcadores de masculinidade socialmente reconhecidos: Barba, voz grossa e músculos, permitindo que sejam lidos como homens pelo meio social, expressando, assim, o gênero com o qual se identificam e minimizando disforias e situações de transfobia. Após dois anos do processo afirmam que, de fato, as mudanças corporais lhes trouxeram maior segurança quanto à autoimagem a ponto se permitirem comportamentos antes proibidos por não serem tidos como masculinos sem sentirem-se vulneráveis ou desconfortáveis.
Conclusões/Considerações A adequação do corpo à identidade é apontada pelos entrevistados não apenas motivo de satisfação, mas de qualidade de vida e até sobrevivência já que reduz do risco de violência física ou moral por transfobia e o grau de sofrimento psíquico enfrentado por essa população extremamente vulnerável no Brasil. Assim, políticas públicas de amplo acesso a procedimentos de readequação de gênero apresenta-se como uma questão urgente e fundamental no país.
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