Comunicação Coordenada

22/11/2022 - 08:30 - 10:00
CC1.3 - SAÚDE, AMBIENTE E SOCIEDADE: INTERFACES ENTRE GÊNERO, RAÇA E OS PROCESSOS DE VULNERABILIZAÇÃO

43362 - PROCESSOS DE VULNERABILIZAÇÃO E O NÃO-ACESSO À ÁGUA EM TERRITÓRIOS TUTELADOS PELO PROJETO DA TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO
ANDRÉ MONTEIRO COSTA - IAM/FIOCRUZ, PAULO CÉSAR DE OLIVEIRA DINIZ - UFCG, WANESSA DA SILVA GOMES - UPE, SUELY EMILIA DE BARROS SANTOS - UPE, CLARISSA DE OLIVEIRA GOMES MARQUES DA CUNHA - UPE


Apresentação/Introdução
O projeto da transposição do São Francisco, em Pernambuco, após 15 anos do início das obras, não oferta o acesso à água para consumo humano, irrigação ou dessedentação animal. As comunidades tradicionais são vulnerabilizadas por perdas materiais, simbólicas e agravos à saúde. Estes territórios ao longo dos canais são tutelados pelo Estado e, implicam em transformações profundas em seus modos de vida.

Objetivos
Analisar processos de vulnerabilização e o não-acesso à água no projeto da transposição do São Francisco como tutela da ação estatal, sobre territórios tradicionais ao longo dos canais.

Metodologia
A abordagem metodológica utilizada é a da história social, enquanto uma história vista de baixo. Este estudo faz parte de projeto de pesquisa, cujas áreas são comunidades tradicionais - camponesas, indígena e quilombolas -, ao longo dos canais dos Eixos Leste e Norte. As categorias do estudo são modos de vida, territórios tradicionais, processos de vulnerabilização, acesso à água e tutela. Foram realizadas entrevistas com lideranças indígenas, quilombolas e camponesas, que vivem no entorno dos canais. Os dados foram analisados, buscando dar visibilidade e sentido aos territórios, a partir de entrevistas semiestruturadas, com as famílias e observação de campo. O período: 2019-2022.

Resultados
Com a implantação do projeto da transposição, os modos de vida tradicionais nos territórios foram vulnerabilizados por meio de perdas materiais, simbólicas e agravos à saúde (sobretudo mental). Em decorrência desses processos, seus territórios passaram a ser tutelados pelo Estado, com consequente perda de autonomia, provocando processos de desterritorialização. Essas comunidades passaram a ser privadas do direito ao acesso à água que tinham anteriormente, o que se constitui em perversidade estatal no controle sobre essas comunidades. Dessa forma é negado sua autonomia, característica fundante desse modo de vida. O Estado se constitui como “um outro indesejável” nesses territórios.

Conclusões/Considerações
A transposição se caracterizou como projeto hídrico de bastante ambivalência, que se propõe a levar água a milhões de pessoas, entretando restringe o direito de acesso, sobretudo a populações tradicionais ao longo dos canais, durante 15 anos. Sem o direito de acesso direto à água, as populações tradicionais passam a ser tuteladas pelo Estado, acentuando-se os processos de vulnerabilização.