Comunicação Coordenada

22/11/2022 - 08:30 - 10:00
CC1.3 - SAÚDE, AMBIENTE E SOCIEDADE: INTERFACES ENTRE GÊNERO, RAÇA E OS PROCESSOS DE VULNERABILIZAÇÃO

42720 - ACESSO À TERAPIA ANTIRETROVIRAL E LETALIDADE DA AIDS, SEGUNDO NÍVEIS DE ESCOLARIDADE E RAÇA/COR DA PELE: UMA ANÁLISE INTERSECCIONAL
IRACEMA LUA - 1. INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (ISC/UFBA), 2. CENTRO DE INTEGRAÇÃO DE DADOS E CONHECIMENTOS PARA SAÚDE (CIDACS), INSTITUTO GONÇALO MONIZ, FUNDACAO OSWALDO CRUZ, DAVIDE RASELLA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (ISC/UFBA), LAIO MAGNO - DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (DCV/UNEB), RODRIGO ANDERLE - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (ISC/UFBA), JAMES MACINKO - DEPARTAMENTO DE GESTÃO E POLITICAS DE SAÚDE, UNIVERSIDADE DE CALIFORNIA, LOS ANGELES, EEUU, RONALDO COELHO - DEPARTAMENTO DE DOENÇAS DE CONDIÇÕES CRÔNICAS E INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, INÊS DOURADO - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (ISC/UFBA), LUIS EUGENIO DE SOUZA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (ISC/UFBA)


Apresentação/Introdução
A interseção entre marcadores de desigualdade social, como analfabetismo e cor de pele preta, produz barreiras ao acesso à terapia antirretroviral (TARV) e aumenta a letalidade entre pessoas que vivem com HIV/aids (PVHA). Esses marcadores são analisados separadamente, mas não em uma perspectiva interseccional tão relevante em países marcados por iniquidades sociais, raciais e educacionais, como o Brasil.

Objetivos
Analisar as associações entre a interseção de nível de escolaridade e raça/cor de pele com a não-iniciação da TARV e a letalidade de casos de aids entre PVHA no Brasil.

Metodologia
Estudo da base de dados brasileiros de vigilância (SINAN) e mortalidade (SIM) por HIV/aids de 2000-18. Avaliaram-se os desfechos não-iniciação de TARV e letalidade da aids. As variáveis preditores principais (cor da pele e escolaridade) foram investigadas separadamente e por interseção. Estimaram-se proporções e associações aos desfechos, ajustados por sexo, idade, categorias de exposição e região de residência. O modelo para letalidade foi ainda ajustado pela variável tratamento. Razões de prevalência ajustadas (RPaj) e intervalos de confiança à 95% (IC95%) foram estimados por modelos de regressão de Poisson. Incluiu-se testes de bondade do ajuste do modelo e de multicolinearidade.

Resultados
Das 824.421 PVHA entre 2000-18 no Brasil, 11,9% não iniciaram TARV e 27,3% morreram por aids. No período, houve redução em ambos desfechos: 31% (p<0,001) e 64% (p<0,001), respectivamente. Analfabetismo (RPaj:2,85; IC95%:2,66–3,05) e cor de pele preta (RPaj:1,07; IC95%: 1,04-1,11) estavam associados à não-iniciação TARV. Também houve associação entre analfabetismo (RPa:2,34; IC95%:2,27–2,42) e cor de pele preta (RPa:1,11; IC95%:1,09-1,13) com a letalidade da aids. Em uma perspectiva interseccional, aqueles que eram analfabetos e pretos tiveram mais que o dobro de probabilidade de não iniciar o TARV (RPaj: 2,72; IC: 2,36-3,14) e, uma vez doentes, de morrer por aids (RPaj: 2,39; IC: 2,23-2,56).

Conclusões/Considerações
A ausência de iniciação à TARV e a letalidade da aids são elevadas no Brasil, atingindo especialmente grupos de maior vulnerabilidade social. A análise interseccional revelou que as PVHA que são analfabetas e pretas apresentam maior proporção de não iniciação da TARV e de morrerem por aids. Assim, recomenda-se ampliação de ações de cuidado do HIV/aids que levem em consideração a escolaridade e sejam socialmente inclusivas para combate da pandemia.