39804 - ADESÃO À TERAPIA ANTIRRETROVIRAL ENTRE HOMENS QUE FAZEM SEXO COM HOMENS NO BRASIL: A INTERSECCIONALIDADE DO ESTIGMA RELACIONADO AO HIV E A HOMONEGATIVIDADE INTERNALIZADA VICTOR CHAGAS MATOS - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP/FIOCRUZ), THIAGO SILVA TORRES - INSTITUTO NACIONAL DE INFECTOLOGIA EVANDRO CHAGAS (INI/FIOCRUZ), LUCILENE ARAÚJO DE FREITAS - INSTITUTO NACIONAL DE INFECTOLOGIA EVANDRO CHAGAS (INI/FIOCRUZ), PAULA MENDES LUZ - INSTITUTO NACIONAL DE INFECTOLOGIA EVANDRO CHAGAS (INI/FIOCRUZ)
Apresentação/Introdução Apenas 70% das pessoas vivendo com HIV no Brasil apresentam adesão adequada à terapia antirretroviral (TARV). Apesar do estigma relacionado ao HIV e a homonegatividade internalizada (HI) estarem ambos associados a desfechos insatisfatórios de saúde, evidências do seu impacto na adesão à TARV e da interação entre as diferentes dimensões do estigma relacionado ao HIV e a HI ainda são escassas.
Objetivos Investigar a associação entre o estigma relacionado ao HIV e a homonegatividade internalizada e o impacto dessas na adesão à TARV entre gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (GBM) no Brasil.
Metodologia GBM, com 18 anos ou mais, residentes do Brasil e em uso de TARV foram recrutados online (fevereiro/março, 2020) através de anúncios na rede social Hornet. Escalas validadas foram usadas para avaliar adesão à TARV (Vale, 2018), estigma relacionado ao HIV (Reinius, 2017) e HI (Smolenski, 2010). Modelos de equações estruturais foram usados para estimar os efeitos diretos e indiretos dos potenciais preditores (estigmas relacionado ao HIV [proferido, percebido e internalizado] e HI) na adesão à TARV, controlando por variáveis sociodemográficas e uso de substâncias. A estimação foi feita por mínimos quadrados ponderados ajustados para média e variância, e indicadores de ajuste foram calculados.
Resultados Dos 1603 GBM em uso de TARV, 60% eram aderentes. No modelo final, há evidência de efeitos indiretos dos estigmas proferido (𝛽=−0,025,P<0,05) e percebido (𝛽=−0,047,P<0,05) e HI (𝛽=−0,029,P<0,05) mediados pelo estigma internalizado sobre a adesão à TARV. O caminho direto de HI (𝛽=−0,091,P<0,053) para adesão foi estatisticamente significante, enquanto que os caminhos diretos dos estigmas proferido e percebido para adesão não foram. Além disso, estigma proferido (𝛽=0,227,P<0,01) e percebido (𝛽=0,420,P<0,01) e HI (𝛽=0,261,P<0,01) apresentaram efeitos positivos e significantes sobre o estigma internalizado. O modelo apresentou ajuste satisfatório (CFI=0,950, TLI=0,943, RMSEA=0,046, SRMR=0,075).
Conclusões/Considerações Os resultados indicam que o estigma relacionado ao HIV e a homonegatividade internalizada estão associados com uma menor adesão à TARV. Ademais, o efeito da homonegatividade é duplo: ela aumenta a chance de experienciar estigma internalizado relacionado ao HIV e diminui a adesão à TARV. Adesão adequada é fundamental para a supressão virológica. Portanto, esforços para dirimir a homofobia e o estigma relacionado ao HIV na sociedade são urgentes.
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