Comunicação Coordenada

21/11/2022 - 13:10 - 14:40
CC3.2 - EPIDEMIA DE AIDS: O DESAFIO DA INTERSECCIONALIDADE PARA O ACESSO ÀS TECNOLOGIAS DE CUIDADO

39601 - USO DE CRACK, HIV E HEPATITE C NO BRASIL: UMA SINDEMIA AGRAVADA PELA DESIGUALDADE DE GÊNERO
ALEXANDRA RIBEIRO MENDES DE ALMEIDA - FIOCRUZ, UCSD, SDSU, MARÍA LUISA ZÚñIGA - SDSU, SUSAN MARIA KIENE - SDSU, FRANCISCO INÁCIO BASTOS - FIOCRUZ, SDSU


Apresentação/Introdução
O crack é uma das drogas mais prevalentes no Brasil, afetando populações vulneráveis e resultando em prejuízos na saúde e qualidade de vida dos usuários. Estudos mapearam a relação entre o uso de crack, comportamento sexual de risco e HIV, enquanto outros demostram a sinergia biológica entre HIV e HCV. Há relatos recentes de detecção de HCV na parafernália usada para consumo de crack.

Objetivos
Neste estudo, investigamos como desigualdades sociais impulsionam a sinergia entre o uso de crack, HIV e HCV, resultando numa piora de saúde maior que a esperada num cenário de simples comorbidades, caracterizando uma sindemia.

Metodologia
Utilizamos os dados coletadas pela Pesquisa Nacional de Crack, um inquérito de base populacional com amostragem por tempo-local para recrutar usuários de crack de cenas abertas de drogas de todos os estados Brasileiros entre 2011 e 2013. Indivíduos com 18 anos ou mais que usaram crack por no mínimo 25 dias nos últimos 6 meses eram elegíveis. Eles responderam questões sócio-demográficas, sobre comportamentos sexual de risco e de uso de drogas, de padrões de uso de crack; e foram testados para HIV e HCV. Ajustamos uma regressão logística multinomial para estimar a associação entre os fatores vulnerabilidade e de comportamento de risco com cada categoria sindêmica.

Resultados
As prevalências de HIV e HCV entre os usuários de crack foram de 3,3% e 1,9%, respectivamente. A sindemia completa (HIV + HCV) foi encontrada em 16 indivíduos (0,2%). Ser mulher (AOR 4,0; IC 90%: 1,9-8,7), dormir na rua (AOR 1,7; IC 90%: 1,0-2,9) e uso mais intenso de crack (AOR 2,1; IC 90%: 1,0-4,1), aumentaram o risco de HIV, mas não de HCV. Compartilhar apetrechos é um forte fator de risco para HCV (AOR 4,8; IC 90%: 1,7-13,9), mas não para HIV. Os fatores de risco para ambas doenças foram: trocar sexo por dinheiro ou drogas (HIV: AOR 2,4; IC 90%: 1,2-4,7 e HCV: AOR 3,0; IC 90%: 1,3-6,9); e história de violência sexual na vida (HIV-AOR 2,1; IC 90%: 1,0-4,2; e HCV-AOR 3,8; IC 90%: 1,6-9,2).

Conclusões/Considerações
A sindemia de uso de crack, HIV e HCV varia com os grupos populacionais. Ao focar na população marginalizada de usuários de crack, o gênero não está associado apenas com vulnerabilidades específicas, como também com piora na saúde. O foco na população usuária de crack viabilizou achados dificilmente acessíveis em estudos mais amplos, onde a população vulnerável compreende apenas um pequeno percentual de casos.